FAQ: Filtragem

Contributo de Bruce Hallman
Tradução de Fernando Fonseca

Sumário

Este artigo descreve como a filtragem pode contribuir para a manutenção de um bom aquário. A primeira parte explica o que são os filtros e como trabalham. A segunda parte descreve os diferentes tipos de filtros.

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Índice

  1. Porque é necessária a filtragem e como funciona
  2. Tipos de Filtro
  3. Mais informação

1. Porque é necessária a filtragem

Por vezes esquecemo-nos de que um peixe metido num aquário está confinado a uma muito pequena quantidade de água comparada com a do seu habitat natural. Na natureza, os dejectos dos peixes são rapidamente diluídos. Mas, num aquário esses produtos podem crescer depressa para níveis tóxicos.

Esses produtos poluentes incluem amónia libertada pelas guelras, dejectos e ainda restos de alimentos. Os alimentos e os excrementos decompõem-se libertando amónia. Mesmo em pequenas quantidades, a amónia é mortal para os peixes.

Obviamente, quantas mais fontes de poluição, tanto mais rápido e maior é o problema da amónia. Um pequeno aquário com muitos peixes grandes sobrealimentados, terá muito mais amónia do que um aquário grande com pequenos peixes alimentados correctamente. Mas, em qualquer dos casos, é necessário um sistema de filtragem para controlar a amónia.

Alguns aquariofilistas tentam controlar os níveis de amónia recorrendo unicamente a mudanças de água. Esse sistema ajuda, mas não é prático devido à necessidade de mudanças frequentes e volume de água das mudanças.

Felizmente, existe um processo mais fácil! De facto, o mundo está cheio de bactérias que não precisam mais do que consumir a amónia e convertê-la em substâncias menos tóxicas. Para muitos aquariofilistas, este processo ocorre sem o seu conhecimento ou ajuda. Contudo, os mais interessados aprendem a tirar vantagem dessas bactérias benéficas maximizando o seu crescimento.

Quando se começa com um novo aquário, há que dar tempo e possibilidade às bactérias de se estabelecerem. Durante um período de várias semanas, esse novo aquário é perigoso para os peixes. Deve-se começar com o aumento gradual da produção de amónia, i.e., começar só com um ou dois peixes pequenos, para se dar tempo ao crescimento das bactérias. A esse período dá- se o nome de ciclo. Ler mais detalhes na FAQ Iniciação à Água Doce.

De lembrar que as bactérias transformam a amónia em outras substâncias (primeiro nitrito e depois nitrato) que são menos tóxicas mas não atóxidas. Muitos peixes podem suportar elevados níveis de nitratos mas, com o decorrer do tempo, os nitratos também se tornam tóxicos. Acresce que os nitratos são fertilizantes e elevados níveis de nitratos podem dar origem a um crescimento excessivo de algas.

Mudanças de água

Embora haja vários processos de remover o excesso de nitratos, o mais efectivo é o de mudar regularmente uma parte da água. Este é um dos pontos mais importantes e tantas vezes negligenciado, da manutenção do aquário.

A frequência das mudanças e a quantidade de água a mudar dependem da carga de poluição do aquário e da sensibilidade dos peixes nele a viver. Não se pode mudar TODA a água em qualquer altura porque a alteração química resultante causa stress aos peixes. A melhor maneira de decidir quando e quanto se deve mudar de água, é pelo controlo da qualidade da água, com testes. Quando o aquário é novo, no mínimo, deve ser medido o nível de amónia e talvez o de nitrito. Quando se trata de um aquário já em funcionamento, deve-se medir periodicamente o nível de nitratos. Ler mais esclarecimentos na secção de TEST KITS da FAQ Iniciação à Água Doce. Os testes da água constituem o processo mais fiável de verificar o comportamento da filtragem.

Para um aquário vulgar, não se deve mudar mais de que 1/3 da água em 24 horas. Muitos aquarifilistas mudam 1/4 da água de duas em duas semanas. Mas cada aquário é um aquário e o processo mais seguro é o de medir o nível de nitratos, para estabelecer um mapa de mudanças.

Filtragem biológica

Filtragem biológica é o termo aplicado à ajuda que se pode dar para que as colónias de bactérias transformadoras da amónia se desenvolvam. É tão importante para a saúde do aquário, que devemos estudar mais detalhadamente como se processa. (Existem outros tipos de poluição que podem causar problemas, mas a mudança parcial e regular de água também os evita).

A Mãe Natureza fornece vários tipos de bactérias que transformam a amónia em compostos progressivamente menos tóxicos. Primeiro as nitrosomonas transformam a amónia em nitritos, depois as nitobactérias, transformam os nitritos em nitratos. Ambas estas bactérias não implicam qualquer perigo e são muito abundantes na natureza. São tão abundantes que não há necessidade de as introduzir no aquário. A natureza fá-lo por nós.

Em presença de amónia e oxigénio essas bactérias multiplicam-se naturalmente, fixando-se nos vidros e equipamento do aquário, rochas, areão e até nos objectos decorativos. Note-se que não falámos ainda na filtragem física, porque a filtragem biológica requer somente:

  1. Uma superfície de fixação
  2. Amónia como alimento
  3. Água rica em oxigénio
Isto parece muito simples; então porque precisamos de uma filtragem física?

Na realidade, se limitarmos o número de peixes ao que a filtragem biológica pode comportar e resolver, não necessitamos de uma filtragem física. Infelizmente, não é possível ter vários peixes num aquário só com a filtragem biológica.

Nas últimas décadas, o aquariofilista tem visto aparecer muitos novos tipos de filtros biológicos, concebidos para aumentar o mais possível a capacidade de fixação da colónia de bactérias, para estas poderem satisfazer as necessidades do aquário. Essencialmente todos estes tipos de filtros têm em vista proporcionarem uma maior superfície de fixação das colónias com um respectivo aumento de oxigénio dissolvido na água.

Filtragem mecânica (física)

Lembremo-nos de que a amónia vem directamente das guelras dos peixes e também da decomposição dos dejectos e restos de comida. Se pudermos filtrar mecanicamente esses produtos (partículas sólidas) antes da sua decomposição adiantamos um passo. Isto, não mencionando já, que esses produtos estragam a beleza de um aquário.

Em poucas palavras, a filtragem física é a retenção num filtro das partículas sólidas em suspensão na água do aquário. A filtragem física não remove directamente a amónia dissolvida na água, nem qualquer outro produto dissolvido. As matérias filtrantes mais vulgares não retêm bactérias e algas, nem quaisquer sólidos fixados no areão, plantas ou decorações.

É necessário recorrer a outros processos para remover essas partículas sólidas. Um dos mais fáceis, é o de aspirar o areão, quando se faz a mudança periódica da água. (Note-se que aqueles aquários de água salgada que usam "substractos vivos" são uma excepção). Alguns aquariofilistas instalam bombas de circulação, conhecidas por bombas de ondas, para aumentarem a possibilidade das partículas sólidas serem captadas pelo filtro.

As quatro mais vulgares matérias de filtragem física são a esponja, cartuchos de celulose, fibras soltas e fibras agregadas em cartuchos, sendo as fibras laváveis até certo ponto (NT.1). Os cartuchos de fibras agregadas e os de celulose proporcionam uma filtragem mais fina e as esponjas e fibras soltas, a menos fina.

Quanto mais pequenos os poros da matéria filtrante, mais fina a filtragem mas também mais rápida a colmatagem. Outra regra básica é a de que quanto maior a superfície filtrante mais lenta a colmatagem, por outras palavras quanto maior for o filtro, mais espaçada é a sua limpeza ou substituição. Consoante a matéria filtrante se for enchendo de partículas, mais apertada vai sendo a passagem e portanto as partículas retidas cada vez vão sendo mais pequenas, até que a água deixa de passar.

EM RESUMO: Um bom filtro mecânico, é aquele que retém suficientes partículas para manter a água limpa, sem colmatar rapidamente.

NT.1- Na prática está verificado que cada lavagem de uma matéria filtrante reduz a sua eficiência em 20%,i.e, após cinco lavagens a matéria está inutilizada.

Filtragem química

Em poucas palavras, a filtragem química é a remoção de poluentes dissolvidos na água. Esses poluentes existem a nível molecular e podem dividir-se em duas categorias: polares e não polares. O método mais comum de filtragem química é a utilização de carvão activado, que é mais eficiente com os poluentes não polares (embora retenha também os polares).Outro método eficiente é o da utilização de escumadores, os quais removem os poluentes polares, tais como produtos orgânicos dissolvidos.

O carvão activado granulado (GAC) é fabricado a partir de carvão vegetal aquecido na presença de vapor a alta temperatura. Este processo provoca a formação de inúmeros pequenos poros, os quais retêm poluentes não polares a nível molecular por adsorsão e troca de iões e removem metais pesados e/ou moléculas orgânicas, as quais são fonte de cores e odores indesejáveis.

O melhor carvão activado para filtragem de água é o vegetal com macroporos (poros grandes). Um bom carvão desse tipo é menos denso e "sibila" e flutua quando em contacto com a água pela primeira vez. O carvão activado para remover os odores da poluição atmosférica, é feito com casca de coco e é microporoso (poros microscópicos). É um carvão mais denso.

Alguns aquariofilistas (especialmente os dedicados aos aquários de recife) preocupam-se com a libertação de fosfatos pelo carvão activado. Recomendamos a compra de carvão produzido por reputados fornecedores de produtos para aquário, que durante o fabrico minimizam o conteúdo de cinzas pela lavagem do carvão com soluções ácidas. Os carvões com baixo teor de cinzas também têm menos possibilidade de alterarem o pH, além da menor libertação de fosfatos.

Os fosfatos existem no carvão activado pela simples razão de esse carvão ter sido originalmente matéria vegetal viva. Toda a matéria viva é rica em fosfatos. A sua libertação é mais elevada inicialmente e tende a diminuir com o tempo. Portanto o problema pode ser significativamente minimizado se o carvão for posto em água durante umas semanas, antes de ser usado no aquário.

Outros aquariofilistas preocupam-se com a remoção de elementos raros feita pelo carvão e que são necessários ao crescimento de plantas e de invertebrados. Esses elementos raros são um problema em aquários com plantas e em mini-recifes, com ou sem uso do carvão. Mas os benefícios potenciais do uso do carvão no seu conjunto superam as desvantagens. Se o problema da diminuição de elementos raros for uma preocupação deve ser usado um suplemento desses elementos em conjunção com o carvão.

O carvão activado só pode ser recuperado em laboratório mas, felizmente, é suficientemente barato para poder ser usado sem a preocupação de reutilização. Deve ser sempre lavado antes da utilização para remover poeiras acumuladas durante a operação de embalagem e transporte. Chama-se a atenção sobre as quantidades a usar, mas pequenas porções mudadas com maior frequência parecem dar melhores resultados. Como experiência, meia chávena por cada 75 l de água é o ponto de começo recomendado. Em resumo, o carvão é uma excelente e barata matéria filtrante, vivamente recomendada para todos os aquários.

Existe uma variedade de produtos para a filtragem química especialmente criados para remover determinados produtos. Um dos mais comuns é obtido da argila zeolite (também usada em gravilhas para caixotes dos gatos). Existem vários nomes desse produto no mercado como "Amo-Carb". Estes produtos removem a amónia da água e são bons para uso em curtos períodos. O aquariofilista deve saber que se usar zeolite, especialmente no ciclo de um novo aquário, o estabelecimento da filtragem biológica pode ser atrasado ou mesmo interrompido.

Os escumadores de proteínas são fundamentalmente usados em aquários de água salgada, particularmente nos de recife. Têm uma especial e notável capacidade de remover matéria orgânica dissolvida antes que se decomponha. O processo baseia-se em tirar vantagem da natureza polar das moléculas orgânicas causar a sua atracção para a superfície das bolhas de ar injectadas numa coluna de água. A espuma resultante é retirada mecanicamente e eliminada.

2. TIPOS DE FILTROS

O modesto filtro de canto

Durante décadas os aquariofilistas mantiveram os seus peixes saudáveis usando um simples filtro de canto. São caixas de plástico transparente de secção triangular que se colocam no interior dos aquários. Com uma pedra difusora no tubo de saída, a água é forçada a passar através da matéria filtrante, fazendo a filtragem física da água. Colónias de bactérias estabelecem-se na matéria filtrante, realizando uma boa filtragem biológica.(É importante que a matéria filtrante seja só parcialmente mudada quando necessário, para evitar a perda total das bactérias). Hoje ninguém usa filtros de canto porque são inestéticos, ocupam espaço no interior do aquário e requerem uma manutenção frequente, mas o seu preço continua imbatível.

Há no entanto uma aplicação frequente para os filtros de canto para a qual outros tipos de filtro não são práticos. Se é necessário arrancar com um segundo aquário para um fim específico, aquário de quarentena por exemplo, retiramos algum areão do aquário principal e pomo-lo no filtro de canto. De imediato temos um filtro biológico para o aquário de quarentena e/ou hospital.

Filtros de fundo ou de placa

As lojas da especialidade vendem normalmente filtros de fundo aos principiantes incluídas em kits de aquários, porque são baratas e porque são eficientes (durante algum tempo). Os filtros de placa trabalham pela lenta passagem da água através da camada de areão que cobre a placa que é perfurada. A corrente de água pode ser obtida pelo borbulhar de ar no tubo vertical de saída da placa. Há quem prefira aumentar o caudal de água recorrendo a uma bomba submersível, chamada cabeça motorizada, montada no topo do referido tubo.

Os filtros de placa são uns bons filtros biológicos porque a lenta passagem da água através do areão favorece a fixação de grandes colónias de bactérias que neutralizam a amónia. A desvantagem é a de que os filtros de placa são maus filtros mecânicos. Os dejectos dos peixes e outros poluentes são sugados para o interior da camada de areão e antes que nos apercebamos essa filtragem está muito reduzida por colmatagem, o que é um sério risco para a saúde dos peixes.

Uma solução parcial para esse problema é a de inverter o sentido da passagem da água, ou seja, a cabeça motorizada forçar a passagem da água através do areão de baixo para cima. Esta técnica é conhecida por filtragem invertida; as cabeças motorizadas têm normalmente acessórios para essa aplicação. A admissão de água na cabeça motorizada deve ser feita através de uma esponja que realiza uma pré-filtragem, evitando que partículas maiores sejam enviadas para o interior da placa e camada de areão. Esta técnica ajuda, mas é só uma solução parcial.

Quando se opta pela filtragem invertida, é necessário aspirar regularmente o areão, para o que existem à venda uns bocais próprios para aplicar ao sifão. Se o areão for limpo quando das mudanças parciais de água, os filtros de placa, seja qual for o sentido do caudal, são uns filtros eficientes e económicos para aquários de água doce.

Filtros de esponja

Os filtros de esponja oferecem uma filtragem biológica eficiente e barata. A água é forçada a passar através de uma esponja, quer recorrendo a uma cabeça motorizada ou a um borbulhar de ar através de um tubo de elevação. A água passando através da esponja permite o crescimento de uma colónia de bactérias que neutralizam a amónia.

Um dos tipos de filtro de esponja tem duas esponjas aplicadas a um só tubo de elevação. Este tipo tem a vantagem de permitir limpar uma esponja de cada vez, o que evita a redução drástica da colónia de bactérias. Além disso uma das esponjas pode ser removida e transferida para outro aquário, levando consigo uma colónia de bactérias benéficas, o que, por exemplo reduz o tempo de ciclo de um novo aquário. Alguns lojistas mais esclarecidos vendem aos principiantes, filtros do tipo de esponja dupla com os aquários e retiram uma esponja já em uso num aquário da loja, fornecendo-a num saco de plástico para ser colocada no filtro quando o comprador monta o aquário em casa.

Filtros motorizados

Muitos aficionados partilham da opinião de que os filtros motorizados são muito mais fáceis de manter e são mais económicos do que os filtros de placa. Existem muitos tipos de filtros motorizados, mas os mais vulgares são pendurados na parede traseira do aquário (filtros de mochila). Um tubo de sifão puxa a água do aquário para a caixa do filtro onde ela passa através de uma esponja, a qual funciona como filtro físico e biológico. Uma bomba faz o retorno da água ao aquário. Este tipo de filtro existe em muitos tamanhos para satisfazerem tanto os aquários pequenos como os maiores.

A esponja deve ser frequentemente verificada e retirada para lavagem se necessário. Essa lavagem deve ser feita num balde com água retirada do aquário, para se evitar a perda da colónia de bactérias. Essa lavagem deve fazer parte da rotina das mudas parciais de água.

Os filtros motorizados têm hoje uma grande variedade de construções, a maioria das quais permite a colocação de carvão activado para filtragem química.

Outra inovação dos últimos anos é o da rotação molhada-seca (a que alguns fabricantes chamam "biowheel"). Como as bactérias que transformam a amónia requerem um meio rico em oxigénio para se desenvolverem, a água passa sobre um dispositivo rotativo colocado sobre a tampa do aquário. Essa roda maximiza a quantidade de oxigénio, permitindo assim o crescimento de uma grande colónia de bactérias. Um defeito apontado a este sistema é o de colar e portanto é necessária a sua verificação frequente. Mas, fora esse inconveniente menor, o "biowheel" é um excelente método de obter uma grande filtragem biológica.

Filtros de caixa (também chamados simplesmente "filtros externos")

Os filtros de caixa têm alguma semelhança com os filtros de mochila motorizados, mas a diferença fundamental é a de que foram concebidos para efectuarem uma filtragem mecânica reforçada. Basicamente a água é bombeada a uma pressão moderada através de uma matéria filtrante, tal como lã de vidro ou de um cartucho filtrante. Os filtros de caixa são especialmente indicados para aquários onde haja grande quantidade de dejectos e poluentes sólidos. Para que estes filtros sejam eficientes, devem ser frequentemente limpos, para evitar a decomposição da matéria poluente no fluxo da água.

Estes filtros são normalmente colocados no chão, sob o aquário, mas também existem modelos que podem ser fixados nas paredes do aquário por fora a ou por dentro e neste último caso chamam-se submersíveis. Alguns aficcionados ligam a saída do seu filtro de caixa a um "biowheel" para aumentarem a filtragem biológica.

Filtros secos-húmidos

Também conhecidos por filtros de chuveiro, os filtros secos-húmidos trabalham com base no princípio de que as bactérias nitrificantes crescem melhor numa água bem oxigenada. Fazendo chover água sobre matéria filtrante biológica não submersa, este tipo de filtro oferece uma grande área de contacto ar/água. Existem com vários formatos e tamanhos. O sucesso dos aquários de água salgada nos anos 80 deve-se a este tipo de filtro.

Podem ser usados muitos tipos de matérias de fixação de bactérias, sendo as melhores aquelas que ofereçam uma maior superfície em simultâneo com poros não muito pequenos para evitar a sua colmatagem mantendo uma eficiente troca de gases. O problema de colmatagem da matéria filtrante pode também ser minimizado com uma boa filtragem física (escumador, no caso de água salgada)

Escumadores de proteínas (fraccionadores de espuma)

Os Escumadores foram inicialmente criados para serem aplicados nas estações de tratamento de esgotos e águas residuais, sendo então conhecidos por fraccionadores de espuma. A sua capacidade para removerem poluentes orgânicos dissolvidos, antes que eles se decomponham, é única. Essa sua capacidade é baseada no princípio simples de que as partículas de resíduos orgânicos são atraídas para a superfície de bolhas de ar que se fazem passar em grande número por uma coluna de água. A espuma que se junta à superfície da água é então recolhida com um sistema mecânico e com ela vão os resíduos orgânicos. Este sistema só trabalha com águas de elevado pH e salinidade e daí que a sua utilização se limite à água salgada e, com menor expressão, a aquários de ciclídeos africanos (de elevado pH e mineralização).

Deve-se principalmente ao escumador a enorme divulgação dos aquários de recife nos anos 90, pela elevada qualidade de água que se obtém com este tipo de filtragem. A actual tendência adoptada para uso de os aquários de recife é baseada na utilização de escumadores e de rocha viva, sem recorrer ao uso de filtros secos-húmidos. Esta tendência é conhecida por "método de Berlim".

Filtros de leito fluído (também chamados filtros de areia)

Recentemente, alguns aquariofilistas têm obtido bons resultados com um novo tipo de filtro que utiliza um leito fluído de areia. Este filtro é baseado no mesmo princípio da filtragem invertida de placa, mas com um caudal de água muito mais elevado. Essa forte corrente de água mantém a areia limpa de resíduos, ao mesmo tempo que permite o estabelecimento de grandes colónias de bactérias. Os inconvenientes notados são o consumo de oxigénio e a colmatagem.

Desnitrificadores

Um outro tipo especial de filtro foi concebido para controlar o nível de nitratos acumulados como produto final da transformação da amónia pelas bactérias. Fundamentalmente este tipo de filtro divide-se em duas categorias: a que utiliza a acção das bactérias aneróbicas, (i.e., que não necessitam do oxigénio dissolvido na água) e a dos tanques de algas e plantas, que se descreve no próximo capítulo. Descobriu-se que as colónias de bactérias que se desenvolvem em ambientes pobres em oxigénio podem ser aproveitadas para consumirem nitratos, com libertação do perigoso nitrogénio (azoto) sob a forma de gás. Este processo foi obtido por um de dois métodos. O primeiro, desenvolvido nos anos 80, utiliza um sistema de caixa, com uma bobina de tubo ou um bloco de matéria cerâmica porosa, através da qual se faz passar muito lentamente a água carregada de nitratos. No interior do sistema é colocado açúcar e a água torna-se anóxida, permitindo o desenvolvimento das bactérias que consomem o excesso de nitratos. Muitos aquariofilistas relatam o seu fracasso na utilização deste método de desnitrificação.

Mais recentemente, alguns aquariofilistas criaram condições anóxidas sob placas no fundo dos aquários, cobertas por areia fina. Nos aquários de água salgada, estes leitos de areia são referidos como "areia viva". Em aquários de água doce plantados, substratos de grão fino podem criar zonas anóxidas, as quais provavelmente também têm capacidades de desnitrificação.

O método Berlim nos aquários de recife implica o uso de grandes quantidades e rocha viva recolhida nos recifes tropicais. Os aficcionados desses aquários referem um bom controlo dos nitratos nos sistemas de rocha viva, os quais embora não muito bem conhecidos, realizam uma desnitrificação no interior das rochas. Outros pensam que o crescimento de algas no calcário das rochas vivas consome nitratos.

Tanques de algas

Nos tanques de algas provoca-se o crescimento de algas vivas que fazem a desnitrificação. A água corre sobre uma rede de arame sob luz intensa. O crescimento das algas remove alguns poluentes da água. Este sistema inventado pelo Dr. Adey do Instituto Smithsoniano, tem sido contestado como forma de filtragem para ecosistemas de água salgada e de recife. Uns defendem que é um sistema completo de filtragem, outros afirmam que os resultados são fracos e que as algas também crescem nos aquários. Nos aquários de água doce abundantemente plantados, verifica-se que o crescimento das plantas deve-se em grande parte ao consumo do excesso de nitratos.

Refrigeradores

Embora não sejam filtros, os aquariofilistas de água salgada têm por vezes necessidade de a eles recorrerem para baixar a temperatura da água dos seus aquários. Os elevados níveis de luz necessários num aquário de recife, provocam uma temperatura excessiva. O uso de um ventilador nos reflectores sobre o aquário e o afastamento do balastro pode também ser benéfico. Bombas submersíveis podem também ser fontes de indesejável aquecimento e como solução muitos aficcionados do recife não usam bombas submersíveis para evitar a sua transmissão de calor à água.

Embora pouco considerado, um processo natural de reduzir o aquecimento é o uso de filtros secos-húmidos, nos quais, a evaporação tem um efeito de arrefecimento. O mesmo efeito se pode obter pela evaporação forçada da água à superfície do aquário. Contudo e com frequência nos países quentes é necessário um sistema adicional de arrefecimento.

Esses sistemas recorrem ao uso de refrigeradores de gás freon, semelhantes aos frigoríficos domésticos. Nesses sistemas, ou passa a água por um permutador de calor ou o permutador está no aquário e o refrigerante passa por ele. Os arrefecedores, ou permutadores de calor, são equipamentos dispendiosos, mas não poucos aficcionados recorrem ao faça você mesmo (DIY), com sucesso. (Para aqueles que pensem nisso, um frigorífico de sala não tem suficiente potência para o efeito).

Esterilização

Nos casos de uma aquáriofilia mais exigente, as infecções resultantes de parasitas nascidos na água, fungos, bactérias patogénicas e vírus podem causar sérios problemas. Nesses casos, recomenda-se a esterilização da água. Por exemplo, os criadores de peixes têm que obter condições para que os ovos fertilizados não sejam, infectados. É frequente adoptarem um sistema de filtragem centralizada que abrange vários aquários, o que permite controlar a disseminação das doenças. Também em grandes aquários e sistemas de recife, a esterilização é uma medida de segurança.

É importante relembrar que um aquário saudável depende do crescimento das bactérias benéficas na matéria filtrante para se realizar a transformação da amónia. A esterilização só deve matar as bactérias patogénicas que aparecem na água e uma esterilização total não é possível nem desejável. Os aquariofilistas que seguem a regra da quarentena para os peixes que compram, geralmente não necessitam de recorrer à esterilização. Os dois principais processos de esterilização são a injecção de ozono e a radiação de ultravioletas:

Ozone

O gás ozono é altamente reactivo e poderoso oxidante dos poluentes orgânicos, incluindo os patogénicos. Um outro benefício do ozono é o de que sistematicamente reduz os compostos orgânicos dissolvidos na corrente de água efeito esse que se estende a todo o aquário. A água carregada de ozono também melhora o rendimento dos escumadores.

Antes da descoberta da rocha viva, do escumador e dos sistemas de recife com método Berlim, a injecção de ozono era considerada indispensável principalmente pelos europeus nos anos 80. A última tendência é a favor do simples e natural método de Berlim. No entanto o uso de ozono mantém-se útil mas tem sido menos usado pelos aficcionados do recife nestes últimos anos.

O gás ozono é produzido por uma faísca eléctrica no ar seco. Como a húmidade reduz drasticamente a produção dos geradores de ozono, os aquariofilistas que o utilizam recorrem a um desumidificador para fazer um pré tratamento do ar. O gás ozono é altamente corrosivo de todos os materiais vulgares em contacto com ele, especialmente borracha. Por essa razão se devem usar materiais a ele resistentes como é o caso do silicone. O ozono residual pode ser eliminado fazendo passar o ar através de carvão activado. Nunca deve ser permitida a sua entrada no aquário porque pode matar os peixes e os invertebrados, além das bactérias benéficas residentes no filtro biológico. Também a sua inspiração pode causar irritação das vias respiratórias, mesmo em pequenas concentrações.

Esterilizadores de ultravioletas (UV)

Uma grande intensidade de raios ultravioletas destroi o DNA das células vivas e pode ser um método eficaz de controlar os organismos patogénicos. A intensidade germicida mais efectiva da luz ultravioleta, UV-C, é da ordem dos 2500 Angstroms=250 nm (NT.2). Para ser eficaz a esterilização por UV deve ser de 35.000/100.00 Mw/s/cm2 (NT.2) de energia, o que corresponde a tratar de 40 a 100 litros de água por hora e por Watt (ou menos para unidades que não funcionem no pico de eficiência).

Os problemas mais vulgares que podem reduzir a eficiência de esterilização são:

  1. Passagem demasiado rápida da água sob a luz UV.
  2. Diminuição da radiação por depósitos de sais ou de resíduos de bactérias na lâmpada
  3. Diminuição da intensidade da lâmpada devido ao tempo (a sua duração média é de seis meses)
A mesma propriedade destes raios poderem matar germes, pode ser prejudicial para os olhos e deve ter-se o CUIDADO de não deixar incidir directa ou indirectamente os Uvs nos olhos. (O problema é particularmente grave porque os danos ocorrem no interior dos olhos, antes que se sinta qualquer dor. Muita gente já prejudicou gravemente a sua visão deste modo). A luz UV-C não penetra na água facilmente, portanto os esterilizadores são colocados muito perto da água, o que traz o risco acrescido de descarga eléctrica se a lâmpada se parte.

Existem três tipos de esterilizadores de Uvs:

  1. De tabuleiro (tipicamente de construção caseira), onde as lâmpadas são suspensas de reflectores sobre um tabuleiro pouco fundo por onde passa a água lentamente. Benefícios: fácil limpeza, construção barata, dimensões de acordo com a aplicação. Inconvenientes: elevado risco para os olhos, demasiado grande e inestético para uso caseiro.
  2. Lâmpada tubular molhada. Este tipo tem a vantagem de não necessitar de reflector. A água passa directamente pela lâmpada que está montada num tubo à prova de água. Benefícios: barato, compacto e eficiente. Inconvenientes: dificuldade de limpeza dos resíduos acumulados e riscos de segurança devido a choque eléctrico.
  3. Lâmpada tubular seca. Semelhante à anterior mas o tubo de UV está rodeado por um tubo de quartzo isolando-o da água. São os mais caros mas também os mais seguros. A mudança da lâmpada é fácil e estes tipos de lâmpada seca podem ter um sistema de limpeza dos resíduos depositados no tubo de quartzo. Alguns fabricantes incluem sensores para controlar a intensidade da luz e a sua duração ou altura de substituição da lâmpada.

NT.2: A unidade de comprimento de onda Angstrom = 0,1 nm (nanometro) A banda de raios ultravioletas do espectro de ondas está dividida em três gamas:

É nesta última gama (UV-C) que se situa o poder germicida dos raios UV.

4. Mais informação

Veja a FAQ-RECURSOS onde se indicam alguns bons livros. Um bom trabalho de referência de filtragem em aquariofilia é "Marine Aquarium Reference (System and Invertebrates)" por Martin Moe.

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